Prof. Renato Las Casas (04/janeiro/2010)
A mais revolucionária de todas as descobertas astronômicas realizadas por Galileo Galilei aconteceu em janeiro de 1610.
Em artigo anterior, falamos sobre o telescópio das grandes descobertas finalizado por Galileo em novembro de 1609 e as primeiras descobertas realizadas por ele com esse instrumento, em novembro e dezembro daquele mesmo ano (Veja “Aconteceu no Final de 1609").
Há 400 anos os intelectuais discutiam: Será que a Terra é o centro do Universo? Ou será ela apenas mais um planeta girando em torno do Sol, conforme a teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico?
Um dos principais (senão o principal) argumento que os geocentristas tinham a favor de sua teoria, afirmava estar a Terra parada no espaço, caso contrário não conseguiria “carregar” a Lua em torno de si. Em 1609, os heliocentristas não sabiam como retrucar essa afirmativa. O conhecimento teórico para isso só viria algumas décadas depois, com Isaac Newton.
Em janeiro de 1610, Galileo apontou o seu telescópio para Júpiter e descobriu que esse planeta “carrega” em torno de si quatro luas. Ninguém duvidava que Júpiter estava em movimento no espaço. Para os geocentristas, Júpiter movia em torno da Terra; para os heliocentristas esse movimento era em torno do Sol. O que Galileo viu (e todos que tivessem um telescópio semelhante poderiam ver) é que Jupiter carrega não apenas uma, mas quatro luas, em seu movimento pelo espaço. O que acontecia com Júpiter não podia acontecer com a Terra?! Quebrava-se assim o mais forte argumento geocentrista!
A primeira vez que Galileo apontou seu telescópio para Júpiter foi na noite de 7 de janeiro de 1610. Júpiter foi visto apenas como um ponto de luz muito brilhante. Por melhor que fosse “o telescópio das grandes descobertas”, ele ainda estava muito longe da precisão necessária para mostrar detalhes do corpo desse planeta. Entretanto, haviam 3 “estrelinhas” muito próximas e alinhadas com Júpiter, que chamaram a atenção do perspicaz Galileo. Uma delas estava do lado oeste e as outras duas estavam do lado leste de Júpiter.
Na noite seguinte, novamente Galileo apontou seu telescópio para Júpiter e, para sua grande surpresa, essas 3 “estrelinhas” se mantinham alinhadas porém mais próximas uma das outras e todas elas do lado oeste de Júpiter.
Noite após noite Galileo verificou: aqueles 3 objetos estavam sempre alinhados, porém constantemente trocavam suas posições uns em relação aos outros e todos em relação a Júpiter. Júpiter se movia em relação às “estrelas de fundo” e aquelas “estrelinhas” o acompanhavam com um intricado “dançar”.
Na noite do dia 13, Galileo descobriu um quarto objeto com as mesmas características dos outros 3 e que também participava daquela coreografia.
Duas noites depois “caiu a ficha” para o Galileo: Aqueles objetos eram luas de Júpiter, vistas de um ponto do espaço (da Terra) coplanar com suas órbitas; de tal forma que, por não termos noção de profundidade, as vemos se moverem ao longo de um segmento de reta, de um lado para outro de Júpiter.
Procurando obter vantagens particulares do Grão Duque Cosimo de Médicis, Galileo batizou esses objetos de “Estrelas dos Médicis” (falaremos sobre isso em uma coluna futura). Hoje, nós os denominamos genericamente de “luas galileanas”. Seguindo a tradição, demos a elas nomes de personagens da mitologia greco-romana ligados ao deus Júpiter (Zeus): Ió; Europa; Ganimedes e Calisto.
Hoje, conhecemos 63 luas de Júpiter; sendo que 47 têm menos de 10 km de diâmetro.